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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

O Cerrado está virando Deserto na Bahia.

Olá!

A reportagem do Globo diz bem a situação vivida atualmente no interior da Bahia. É mais uma consequência do desequilíbrio climático global.
 
O problema é bem maior pois as dimensões são subavaliadas, ou seja, os municípios atingidos pelas secas e inundações são bem mais numerosos, eu garanto.
 
Solução: Mudança, imediata, de consciência e atitude perante a vida. Sustentabilidade.
 
Vejam a reportagem:
 
 
O GLOBO
 
Cidades próximas ao Rio São Francisco podem virar deserto
 
RIO — Depois de começar o ano combalida pela seca, a cidade de Xique-Xique, no sertão baiano, está hoje em estado de emergência por causa das fortes chuvas que caíram no Nordeste a partir da segunda quinzena de janeiro. Da mesma forma, diferentes municípios próximos, no entorno do Rio São Francisco, como Juazeiro e Barreiras, que estavam em situação emergencial devido à prolongada estiagem, agora avaliam as perdas impostas pela precipitação. Famílias sem casa, escolas paradas e obras desmanteladas. Algumas prefeituras cancelaram as festividades do carnaval.
 
Enquanto especialistas tentam explicar a ironia meteorológica, enfatizando que essas chuvas não significam o fim da seca atual na região, ficam óbvias as fragilidades de cidades do Médio São Francisco diante de fenômenos naturais extremos que se tornarão cada vez mais severos e frequentes com as mudanças climáticas em curso no planeta.
 
É justamente esse grau de vulnerabilidade local que pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mapearam pela primeira vez. Segundo a pesquisa, feita com dados de 84 municípios baianos na Bacia do São Francisco, até 40 dessas cidades são altamente vulneráveis aos efeitos do aquecimento global. ou seja, nos próximos 25 anos, com estiagens mais longas e menos esporádicas, além de aumento da temperatura, esses locais — todos com baixos indicadores sociais — são mais sujeitos a experimentar fortes perdas agrícolas, escalada de doenças, evasão de moradores e até a desertificação das paisagens.
 
— O objetivo do estudo é dar instrumentos para a gestão pública. Se nada for feito no sentido de preparar a região para as mudanças climáticas, essas populações poderão sofrer mais com o aquecimento do planeta. Melhorias já estão em curso, mas é preciso expandir essas ações — explica a pesquisadora Martha Barata, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), acrescentando: — O trabalho identificou fortes desigualdades entre municípios vizinhos. Paulo Afonso, por exemplo, é o mais protegido. Mas há cidades próximas, como Jeremoabo, em situação bem mais frágil.
 
Toda a área pesquisada fica dentro do bioma da Caatinga, um dos mais ameaçados pelas alterações no clima. Com base em dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o estudo identificou possíveis mudanças de temperatura e volume de chuvas para cada município considerando dois cenários: o primeiro, otimista, leva em conta um corte das emissões globais de gases-estufa, impedindo que o aquecimento médio da Terra supere 0,98 grau Celsius, com uma queda no volume de chuvas de 101mm em 25 anos. Mesmo com essa conjuntura, 34 municípios da área estudada foram classificados como altamente vulneráveis.
 
O segundo cenário estipulado pela pesquisa considera uma progressão contínua das emissões no planeta, o que elevaria a temperatura global em até 1,75° C, com um decréscimo maior, de 172mm, no volume de chuvas até 2040. Diante dessas previsões pessimistas, o número de cidades com vulnerabilidade alta ou muito alta chega a 40. Além disso, analisando indicadores locais, os pesquisadores alertam que a cidade de Buritirama, por exemplo, pode se tornar 2,13°C mais quente. Já em Urandi, a queda no volume de chuva pode chegar a 438 mm.
 
A pesquisa também alerta para diferentes doenças, como dengue, esquistossomose e diarreia, que podem se tornar mais comuns na região.
 
— A seca no Nordeste sempre existiu, é histórica. Nossa preocupação no estudo é com o agravamento disso. Sem investimento em melhorias, pode não haver, no futuro, condições de sobrevivência nesses locais — comenta a pesquisadora Diana Marinho, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz).
 
— Os municípios sofrem muito com as estiagens e com as enxurradas. Por ser uma área muito seca, as prefeituras não se preocupam com drenagem, por exemplo. Quando cai uma chuva forte, os moradores são pegos desprevenidos. Não há sistemas para armazenar essa água.
 
Segundo Diana, que nasceu em Campina Grande, na Paraíba, o sertanejo tende a confiar o futuro a Deus:
 
— Eles dizem que “se Deus quiser, vai chover, e o milho vai crescer”. Não se mobilizam para mudar as coisas porque o pai, o avô e o bisavô sempre fizeram daquele jeito. O problema é que o clima está sofrendo alterações, as cidades da região precisam se adaptar a isso.
 
RECUPERAÇÃO DE RIOS E NASCENTES
 
Superintendente de Políticas e Planejamento Ambiental da Secretaria Estadual de Meio Ambiente da Bahia, Edson Ribeiro acompanhou a apresentação da pesquisa para gestores públicos regionais. Ele destaca que está em trâmite na Assembleia Legislativa da Bahia um Projeto de Lei que prevê a instituição de uma “política de convivência com o semiárido”. O objetivo é unificar ações municipais, estaduais e federais voltadas ao desenvolvimento do sertão. O programa Água Para
 
Todos, da União, por exemplo, visa a distribuir tecnologias para enfrentar as secas. Algumas cidades analisadas pela Fiocruz já possuem cisternas para o armazenamento de água, mas a infraestrutura disponível ainda não evita situações de calamidade como a que se observa atualmente.
 
— O perigo de desertificação de certas áreas está no radar dos governos. As cidades com as coberturas vegetais mais comprometidas estão entre as mais vulneráveis. O que podemos fazer? Recuperar as matas ciliares (dos rios), resgatar as nascentes. Queremos criar um programa para desassorear os rios — afirma Ribeiro, ele próprio natural de Xique-Xique.
 
— Nos últimos anos estamos vendo a migração se acentuar na área do São Francisco. São pessoas fugindo da seca para cidades próximas ou metrópoles mais distantes. É preciso evitar essa tendência.


 


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